Ao contrário do que se poderia pensar, o movimento cristão primitivo não constituiu um bloco monolítico de crenças e ritos administrados por uma única e incontestada instituição. Estima-se em uma centena de seitas dissidentes suscitadas no decorrer dos três primeiros séculos da era cristã. Nenhuma das heresias desse período representou maior risco para a estabilidade da igreja primitiva do que a dos gnósticos. Surgido no início do segundo século, o gnosticismo alcançou o mais alto ponto de sua trajetória durante as duas décadas finais desse mesmo século para extinguir-se na segunda metade do século seguinte. Propositalmente esquecidos, os textos gnósticos, dentre os quais este Evangelho de Tomé, só puderam ser conhecidos graças à descoberta casual, em 1945, de uma urna de barro contendo 52 livros de uma biblioteca gnóstica, nas imediações de Nag-Hammadi, no Alto Egito. Entre tantos textos relativos ao cristianismo primitivo, o Evangelho de Tomé destaca-se como um dos seus mais importantes documentos.