Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. É o Criador de todas as coisas. Para crer em Deus, basta olhar para as obras da Criação. O universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e acreditar que o nada pôde fazer algo.
O sentimento instintivo da existência de Deus o qual todos os seres humanos trazem em si, presente até mesmo nos mais primitivos, é uma consequência do princípio da Sua existência. Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse somente produto de um ensino, não seria universal e não existiria senão naqueles que houvessem podido receber esse ensino, assim como acontece com as noções científicas.
A harmonia existente no mecanismo do universo apresenta combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, porque o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente não seria mais acaso. Há um provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vemos a obra e procuramos o autor. O poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, consequentemente, uma inteligência superior à Humanidade, seja qual for o nome que Lhe deem.
Falta ao ser humano o sentido para compreender a natureza íntima de Deus. Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria e quando, pela sua perfeição, tiver se aproximado de Deus, ele O verá e O compreenderá. A inferioridade das faculdades do ser humano não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da humanidade, o ser humano O confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui, mas, à medida que o senso moral se desenvolve nele, seu pensamento penetra melhor na essência das coisas, então, faz ideia mais justa da Divindade e, ainda que sempre incompleta, mais conforme seu entendimento.
Podemos, então, sintetizar os atributos de Deus assim:
Deus é eterno, pois se tivesse tido começo, algo haveria de ter existido antes d’Ele, ou Ele teria saído do nada, ou, então, um ser anterior O teria criado. É assim que, degrau a degrau, remontamos ao infinito na eternidade.
Deus é imutável, pois se estivesse sujeito à mudança, as leis que regem o Universo teriam nenhuma estabilidade.
Deus é imaterial, pois Sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, pois, do contrário, Ele estaria sujeito às mudanças e às transformações da matéria e, então, não seria imutável.
Deus é único, pois se houvesse muitos deuses, haveria muitas vontades e, nesse caso, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.
Deus é onipotente, porque é único. Se Ele não dispusesse de poder soberano, algo ou alguém seria mais poderoso do que Ele, não teria feito todas as coisas e as que Ele não houvesse feito seriam obra de outro deus.
Deus é soberanamente justo e bom, pois a sabedoria providencial das leis divinas se revela nas mais mínimas coisas como nas maiores e essa sabedoria não se permite duvidar nem da Sua justiça, nem da Sua bondade.
Leia mais em O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte Primeira, Das causas primárias, Capítulo I, Deus.