Não é fácil analisar o espírito apenas com a nossa linguagem, pois ele nada é para nós, porque não é palpável. Desde que se admite a existência da alma e sua individualidade após a morte, é obrigatório também que se admita, primeiramente, que a sua natureza difere da do corpo, visto que, separada deste, deixa de ter as propriedades peculiares ao corpo e que, segundo, desfruta da consciência de si mesma, porque é passível de alegria ou de sofrimento, sem o que seria um ser inerte, caso em que de nada nos valeria possuí-la. Admitido isso, tem que se admitir que essa alma vai a algum lugar. Segundo algumas religiões, vai para o céu ou para o inferno. Mas, onde ficam o céu e o inferno? Como a doutrina da localização das almas não pode harmonizar-se com os dados da Ciência, outra doutrina mais lógica nos indica não um lugar determinado e circunscrito, mas o espaço universal: as almas formam um mundo invisível, no qual vivemos imersos, que nos cerca e interage conosco incessantemente.
Essas almas que povoam o espaço são precisamente o que se chamam espíritos. Assim, pois, os espíritos são as almas dos seres humanos, despojadas do invólucro corpóreo. A sobrevivência à morte do corpo está provada de maneira irrecusável e até certo ponto palpável, pelas comunicações espíritas. A individualidade da alma é demonstrada pelo caráter e pelas qualidades peculiares a cada um.
O espírito é o ser principal, porque é o ser que pensa e sobrevive. O corpo não passa de um acessório do espírito, de um revestimento, uma roupagem, que ele deixa, depois de usada. O espírito é um ser individual e circunscrito, ao qual só falta ser visível e palpável, para se assemelhar aos encarnados. Há, portanto, no ser humano um princípio inteligente a que se chama alma ou espírito, independente da matéria, e que lhe dá o senso moral e a capacidade de pensar.
Espírito, por definição, é o princípio inteligente do Universo. A inteligência é um atributo essencial do espírito, porém, inteligência e espírito se confundem em um princípio comum, de maneira que, para nós encarnados, parecem a mesma coisa.
O espírito independe da matéria, mas a união do espírito e da matéria é necessária para dar inteligência à matéria. Essa união é igualmente necessária para a manifestação do espírito. Há, então, dois elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito, e acima de tudo Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal.
Ao mesmo tempo que criou mundos materiais desde toda a eternidade, Deus tem criado espíritos desde toda a eternidade. Havendo Deus criado desde toda a eternidade e, criando incessantemente também desde toda a eternidade, tem havido seres que atingiram o ponto culminante da escala espiritual. Progredir é a condição normal de todos seres espirituais e a perfeição relativa é o fim que devem alcançar.
Os espíritos não tem sexo como o entendemos, porque os sexos dependem da organização física. Há amor e simpatia entre eles, mas baseados na harmonia dos sentimentos.
A vida espiritual é a vida normal do espírito: é eterna. A vida corporal é transitória e passageira, não é mais do que um instante na eternidade.
Leia mais em O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte Segunda, Capítulo I, Dos Espíritos.