Brasil: Hospital do Cristo, Não Galeria de Arte
Quando ouvimos o título da obra psicografada por Chico Xavier, Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, somos levados a imaginar uma nação idealizada, onde a prosperidade econômica, a organização política e a justiça social seriam referência para o mundo. Mas será que é isso que Jesus realmente nos propõe?
A interpretação oferecida por Haroldo Dutra Dias sobre essa obra de Humberto de Campos nos desafia a olhar além do sonho utópico e encarar a realidade espiritual por trás do destino do Brasil. Desde o início, o propósito divino para o país nunca foi a ostentação ou a glória material. Pelo contrário, o Brasil foi escolhido como o campo de trabalho para o Evangelho porque aqui havia uma oportunidade singular: ser o hospital do Cristo.
O Inventário do Cristianismo
A obra de Humberto de Campos começa com a visita de Jesus à Terra, numa cena impactante em que o Mestre solicita um inventário do cristianismo após mais de 1.500 anos de sua disseminação. O resultado é desolador: as conquistas espirituais são escassas, os valores do Evangelho estão deturpados, e a humanidade se encontra mergulhada em conflitos. Diante dessa situação, Cristo toma uma decisão crucial: transplantar a árvore do Evangelho para um novo solo, magneticamente o coração do mundo, o Brasil.
O Desafio de Ismael
Para liderar essa tarefa monumental, Jesus nomeia Ismael como o anjo tutelar da nova nação. Contudo, o desafio era imenso, e Ismael, ao deparar-se com os problemas já presentes no Brasil, não consegue conter as lágrimas. A nação deveria integrar contribuições dos povos indígenas, africanos e europeus, mas a escravidão, a ambição materialista e a violência já haviam contaminado essas relações.
É nesse momento que Cristo oferece uma solução que parece, à primeira vista, incompreensível: reunir no Brasil os espíritos mais corrompidos da humanidade. Aqueles que falharam nas cruzadas, na Inquisição, nos sistemas políticos corruptos, nos exércitos opressores e nos desvios religiosos. “Mande todos para o Brasil!”, ordena o Mestre.
Um Hospital Espiritual
O que poderia soar como uma condenação, na verdade, revela a essência do Evangelho. Jesus lembra que sua missão não é para os sãos, mas para os doentes. O Brasil, então, não foi concebido para ser uma vitrine de perfeição, mas um hospital espiritual, um lugar onde os espíritos em sofrimento podem encontrar oportunidade de regeneração.
Esse olhar desmistifica a ideia de que o Brasil será um modelo de nação idealizada no sentido material. Ele já é o coração do mundo e a pátria do Evangelho porque acolhe os mais necessitados de cura espiritual.
Nossa Missão como Brasileiros
Compreender o papel do Brasil como hospital do Cristo nos convida a assumir a responsabilidade de sermos agentes de transformação. A caridade, o amor e a misericórdia são ferramentas indispensáveis nesse processo. Não estamos aqui para exibir perfeição, mas para regenerar, reconciliar e construir juntos um ambiente de aprendizado e evolução espiritual.
Se o Brasil nos parece um caos, talvez devamos lembrar que todo hospital é um lugar onde convivem o sofrimento e a esperança, o tratamento e a cura. Assim, cabe a cada um de nós escolher nosso papel nesse grande hospital espiritual: sermos pacientes conformados ou médicos dispostos a ajudar na regeneração.
O Brasil não será grande por liderar o mundo em riquezas materiais ou avanços tecnológicos. Ele é grande porque carrega a sublime missão de acolher, regenerar e transformar os espíritos que, em outros lugares, talvez não tivessem essa chance. Que possamos, enquanto nação e enquanto indivíduos, honrar esse chamado do Cristo e fazer do Evangelho nosso guia para uma sociedade mais justa e amorosa.