Em meio às complexidades e debates contemporâneos sobre o aborto, é essencial considerar o ponto de vista do Espiritismo, que oferece uma perspectiva profunda e compassiva sobre a vida e suas interações.
O fundamento primordial do Espiritismo reside na compreensão de que a vida é um dom divino, iniciando-se no momento da concepção. Allan Kardec, no “O Livro dos Espíritos”, nos lembra que o primeiro direito natural do homem é o direito à vida. Para os espíritos superiores, a união da alma ao corpo humano começa nesse instante da concepção e se desenvolve até o nascimento completo.
Durante o período entre a fecundação e o nascimento, o espírito destinado a habitar esse corpo inicia um processo de ligação progressiva, intensificando-se à medida que o tempo avança. Embora essa união não seja definitiva até o nascimento, o feto está intrinsecamente conectado ao espírito que o animará. Esta fase pré-natal é descrita como um estado de transição, onde o espírito mantém suas capacidades, mas gradualmente perde a lembrança do passado, em preparação para a nova jornada terrena.
Assim, interromper essa jornada através do aborto é considerado, segundo a visão espírita, uma grave transgressão às leis divinas. Provocar o aborto impede que a alma cumpra suas provas e aprendizados necessários, retardando seu progresso espiritual. É comparado a destruir uma existência em seu início, forçando o espírito a recomeçar seu ciclo evolutivo.
Para os espíritas, respeitar a vida desde a concepção significa reconhecer a vontade e a obra de Deus em cada ser em formação. Tratar desatenciosamente um embrião é ignorar o propósito divino que guia cada vida, e nenhum ser humano está autorizado a julgar ou interromper esse processo.
É importante ressaltar que, de acordo com essa visão, o aborto pode ser justificável somente
nos raros casos em que a vida da mãe está em perigo. Nesses momentos extremos, a decisão de sacrificar o feto para salvar a vida da mãe é uma escolha difícil, porém necessária, priorizando a preservação da vida já existente.
Portanto, o aborto, em qualquer fase da gestação, é considerado pelos espíritas como uma séria violação das leis divinas, pois impede o progresso espiritual da alma que já está ligada ao embrião. Respeitar a vida desde a concepção é honrar o sagrado dom da existência, reconhecendo a sabedoria e a justiça divina em cada momento da jornada terrena.
Leia mais em O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte Segunda, Capítulo VII, União da alma e do corpo, perguntas nº 344 a 360.