A complexidade da interação entre os seres vivos, onde a sobrevivência muitas vezes implica na predação e consumo de outros seres, pode nos parecer desconcertante à luz da bondade divina. Por que Deus permitiria que essa necessidade mútua de destruição fosse uma parte fundamental da ordem natural?
Para aqueles cuja visão se limita apenas ao plano material, essa aparente imperfeição na obra divina pode ser difícil de compreender. Costumamos julgar a sabedoria de Deus a partir de nossas próprias limitações humanas, incapazes de enxergar além da vida presente.
No entanto, para compreendermos verdadeiramente essa dinâmica, é necessário considerarmos o princípio espiritual e a grande lei de unidade que rege a harmonia da criação. A vida real não reside apenas no invólucro corporal, mas no espírito que transcende e persiste após morte do corpo material.
Deus, por meio do que nos parece ser apenas destruição, nos ensina a desapegar do envoltório material e a buscar a compreensão da vida espiritual como uma forma de compensação. Mas por que Deus não poderia alcançar o mesmo objetivo de outras maneiras, sem a necessidade de os seres vivos se destruírem para se alimentar?
Devemos confiar na infinita justiça e sabedoria de Deus, reconhecendo que nossa compreensão é limitada. A destruição do corpo também possui utilidade física, garantindo a renovação orgânica constante e servindo como instrumento para o desenvolvimento do princípio inteligente dos seres. A luta pela sobrevivência desempenha um papel crucial no desenvolvimento espiritual, exercitando nossas faculdades e fortalecendo nossa inteligência e habilidades morais. Nos estágios iniciais da evolução, a luta é motivada principalmente pela necessidade material, mas à medida que o ser humano evolui, a sensibilidade moral aumenta e a necessidade de destruição se torna menos premente.
Ainda assim, a luta é essencial para o contínuo progresso espiritual, mesmo quando alcançamos níveis mais elevados de consciência moral. Através dela, adquirimos conhecimento, experiência e nos libertamos dos últimos resquícios de nossa animalidade.
Portanto, a destruição mútua dos seres vivos não contradiz a sabedoria divina, mas faz parte de um intricado encadeamento de leis naturais. À medida que nos elevamos espiritualmente, a luta se transforma em um desafio intelectual, onde enfrentamos dificuldades e adversidades, não mais contra nossos semelhantes, mas em busca de nosso próprio aprimoramento.
Entretanto, dizem os espíritos superiores, é meritório nos abstermos da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação, se praticarmos essa privação em benefício dos outros. São qualificados de hipócritas os que apenas se privam de algo pela aparência.
Leia mais em O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte Terceira, Capítulo V, perguntas nº 723 a 727.